quarta-feira, abril 05, 2006

2- Esqueleto....


Tinha-lhe aparecido de rompante, naquela altura em que somos permeáveis a eles, e tinha criado um espaço nada corpóreo, mas demasiado físico/mental, se é que isto se pode entender.
Resumindo: tinha encantado como era seu hábito, se calhar por razões outras que não aquelas que ele considerava as suas armas demolidoras.

Não trouxera nada para oferecer, mas cativava pelas suas contradições, pela sua fragilidade e sensibilidade, sempre desimuladas numa divertida e alegre capa de D. Juan,
que fazia estragos à esquerda e à direita.

Para ela, que tinha a pretensão de o “topar à légua”, que o via de igual para igual, que quase invejava não poder ter sido a sua versão feminina, o fascínio que exercera não fora menor… fora mais denso.
Queria-o como uma fêmea quer um parceiro, até à satisfação.
Queria-o como um homem quer um amigo, como um igual, como um aliado.
Queria-o pela sua mente, pelo seu espírito, pela sua energia positiva, pelo seu humor, pela sua natureza desarmante, (recordava-se agora que ela própria era apelidada de desarmante pelos amigos...coincidência?).
Queria-o, mas só por momentos! Sabia-o desde o início.
Momentos daqueles em que as bolas se tocam explosivamente numa mesa de bilhar, para depois partirem à procura do seu buraco ou de outra bola que por ali ande.
Sabia que viviam filmes diferentes, comunicado apenas pelos meios incorporais da moda.

Resumindo, queria livrar-se desse fantasma que não fazia nada por si, (não sei se é suposto os fantasmas fazerem alguma coisa por nós …) da única maneira que sabia: consumindo-o, desmistificando-o, reduzindo-o à mera condição de esqueleto no armário, (segundo ela bem mais fácil de lidar…, nem sequer faz Buuuu!, quando damos com ele.)
Como todos os fantasmas era fugidio, não por timidez mas por sobrevivência por ser bem relacionado, por não se dar à maçada, ou seria um pouco de medo de se ver tão radiografado nos olhos dela? A hipótese de ela não passar de um recorte de uma notícia do século passado, também não podia ser formalmente descartada.

Ela tinha ignorado vezes suficientes, no passado, o incómodo que ele lhe causava quando aparecia, sempre imaterial, fazendo gracinhas e chamando a sua atenção.
Agora decidira encostá-lo à parede (fraca estratégia!), levantar-lhe o lençol e ver como era, afinal ela queria conhecer mais do que ele se permitia revelar.
Fez-lhe um ultimato e ele disse que sim, que iria. (já o tinha dito outras vezes) ela forçou-se a acreditar mas, como das outras vezes… nunca o levou muito a sério.

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