foto syl
“Eu não sei se hei-de fugir ou morder o anzol,
Já não há nada de novo aqui… debaixo do sol….”
Rádio Macau
Dir-se-iam estúpidos, irracionais estes peixes, que nem sequer pela observação sistemática do destino fatal, dos seus irmãos, primos e restante família, se deixam assim apanhar simplesmente, mordendo o anzol.
Mas como todos os outros, também ela, fresca, brilhante, que se considerava ladina e coisa e tal, mordeu-o!
Ficou a observar nitidamente o fio invisível que a puxava para mais perto do céu. (Ou Inferno, que são a mesma coisa).
Não resistiu. Até ajudou. Deixando-se flutuar obediente. Claro! Já não há nada de novo aqui ou lá onde se encontrava.
Mordia mais um pouco o anzol, com medo de ficar pelo caminho e saboreava o suave veneno que a entorpecia e excitava. Enrolou-se voluntariamente no fio mesmo não o vendo, sabia que ele estava lá.
Nada de medos. A excitação de chegar à superfície era grande, queria ver o pescador.
Aquele que com tão simples truque, continuava a fazer o que sabia. Pescar o peixe, vê-lo vibrar à sua frente, arfar por ar, e por fim… desfalecer.
Ela era curiosa e jogadora, deixou-se levar em todos os passos.
Quase em coma podia ainda sentir os efeitos nocivos, mas não se arrependia.
Queria saber como seria o fim. Ser a ementa do pescador, ser por ele devorada e saboreada. Apostava que ele iria sentir-lhe a diferença.
Sabia de todos os outros peixes ao seu lado, provavelmente enfeitiçados pela mesma canção. Só não sabia que os seus destinos seriam o mesmo.
Acabou vibrante e brilhante, como todos, numa foto de turista.
sábado, março 25, 2006
O Anzol
Publicada por syl à(s) 12:14 da manhã
Etiquetas: círculo vicioso
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2 comentários:
acredito que há peixes com outros fins, mais galmourosos, mais impetuosos, mais gloriosos...
muito sugestivo...muito eloquente este surrealismo simbolico da vida...gostei muito
Obrigado minha querida, parece que quando ponhos os meus óculos sem lentes, de repente tudo tem explicação nesse tal universo. Não há coincidências. (Salvo seja!)
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